quinta-feira, 5 de março de 2009

um parágrafo

já não sei o que me ocorre
papel e lápis me são traidores
coração nem é amores
e a razão nem é nada



e tudo é tão todo
que já não sei o que me ocorre
eu sou um de um
não poderia me saber como o todo



nem poderia saber-me
como um de cem
logo que sem
é ausência
e como me poderia saber não estando aqui



as rimas já nem sei mais
às rimas atribuo as curvas
as nuances
de uma estrada pedregosa e inexorável
de cabelos seios e desejo



mas não as sei
apenas as dirijo
seguindo alguns seguidores
ladeira libidinosamente íngreme (quase reta, de tão)



as poesias já me são fugazes
não sou mais são
mas elas são!
só não se entende a lógica delas



que é delas
só delas
por isso não se entende
por melhor, pois entender é tão monótono



também me sou
porquanto tal que me enjoo
e, porventura, caço outro de mim
em outro de mim
mais à isso não entendo



tampouco almejaria eu;
fadar a compreensão ao ser humano
é como traçar-lhe a morte.
a incógnita inóspita da vida
é tão mais vida quando a vivemos por sentida



ao invés de compreendida.
Minha razão me guia pelos seus caminhos
seus, não meus
minha razão é minha, deveras
mas minha razão não sou eu



e se á isso um pouco entender
é sinal de que merece ser ovacionado, leitor
logo que, esteja à frente de mim
mas não da minha auto-consciência



tenho plena consciência
de que não entendo nada
escrito até o momento
e à partir de agora me sei do que digo



o amor...
mencionei-o pois todo romântico o deve
e o deixei por último
pois dele, sobre ele e para ele
não me renderia nem ao menos



um mísero parágrafo amoroso.


Rodrigo da C. Lima Bruni

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