quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ilusória.

sou prostituto
desde que me entendo por mim



já passei por vários corpos
já me deixei seduzir pelo mais perfeito sexo
ainda que resida uma ambiguidade à isso.



me (bem)digo profissional da ilusão
e afirmo me satisfazer com pouco mais de umas fiéis esperanças como pagamento
firmo satisfazer á todos.



aos enfermos
aos doentes de alma
e ás almas enfermas por doentes de si



já escorri pela sarjeta
me embriaguei o suficiente pra me achar bom
e achei bom a ironia que à tudo isso se mostrou franca



Que poderia almejar?
tão somente profissional
porquanto tal
que o próprio gozo que me detém
é o mesmo pelo qual me abstenho



e abro mão sem nenhum pesar
abro minhas mãos á quem quiser
somente não me abro
pois abrir-me o total sentido
seria encerrá-los em plena desgraça



e se algum sentido á alguém se mostrar
será sentido e compreendido como eu o deveria
com o coração,
por onde mais vago, sem razão
e que posso fazer
se sou, tão somente
um velho, usurpado
condenado
e foragido prostituto.


Rodrigo da C. Lima Bruni

a arte

sem garbo
eufemismo
ou eloquência



arte é arte
feliz e fiel a si
arte é parte



fração de nós que não parte
que não é nossa
(como nós somos dela)



está no mundo
tão somente por ser necessária
por ser sensível
e há(ver) de ser sentida



tão inculta e pouco pudenda
que se revela à quem lhe revela a alma
lhe vela um motivo pra viver
para ser ( e há de ser) arte



a pintura nos colore rimas
a poesia nos (a)figura, Amor,
sua vida



pois há de sacrificar-se
para ser sentida
para ser arte ainda que (tragédia!) póstuma.



arte é parte
feliz e fiel em si
e das milhões de partes
uma nos cabe
e cabe em nós milhões de artes.


Rodrigo da C. Lima Bruni

rosa de plástico

viva ao ar mal beijado
do incorpóreo amor que nos inspira
e expira
ao final de respiração lenta e ruidosa



e dolorosa
que por tanto doer
se mostra rosa
de espinhos e pétalas de plástico



que nos plastifica a perfeita e digníssima razão
razão nossa que é dela
que de rosa apenas o nome detém
cinza é sua real cor



névoa é seu aspecto, seu tato
névoa espessa e dura como rocha
neve seria sua real sensação
mas esta só assim se afigura tardiamente



e a tarde ao menos tarde é
para quem realmente lhe descobre
para quê realmente a descobrir?
vamos plantar sua semente e colher seu falso fruto bendito



vamos ao Amor, semear nossa cara
e fazer dele humano
ainda que rosa de plástico
vamos fazê-lo plasticamente humano



vamos fazer dele nós mesmos
e de nós, rosa de plástico
para assim ser (in)quebrável
esse amor nosso (que somo nós)


Rodrigo da C. Lima Bruni

cantos e encantos do silêncio

o silêncio é muito mais gostoso
quando apreciado sem pressa
sem pretensão



e cada gota que transborda seu prazer
é prazer aos ouvidos de quem o toca
de quem lhe exerce o tato com a alma



me lembra a beleza do canto dos passarinhos
tal encanto o meu!
tal que meu canto seria ribombante
acima do silencioso tom audível dos mortais



seria inaudivelmente imortal
esse silêncio dito canto
e cá no meu canto
o romper seria me prorromper em trombetas



em sopros de pesar
sopros inaudíveis de tão introspectivos
porém meu silêncio, que minha algazarra habita
teria seu silencioso coração cortado de dor e angústia



caso ocorresse.
e lhe ocorreria
a tentação do costumeiro suicídio



que me fadaria a algazarra extrospectiva
a algazarra mundana
a algazarra imortal



silêncios são orgulhosamente sentimentais
e quando nos fazemos à menção de abandono
se suicidam
pelo mais belo amor à sua integridade silenciosa



póstuma tragédia esta
na qual me queixo do meu silêncio
que já se alimentou de mim
e aqui me alimento dele



silencioso, terreno e mundano
o digiro à largas garfadas
o dirijo pelo meu corpo



esse silêncio intra-venoso
essa coisa que vai ser sempre minha
e minha será a morte



sempre que acordar para a algazarra
serei eu, o morto
que me farei ele
para este nunca mais se dissipar



e ser, assim, eterno
e à isso não encontro um fim
aqui escrito
porém, inscrito e proscrito, já sabeis...



(silêncio)


Rodrigo da C. Lima Bruni

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

declaração da tristeza ao amor

eu sou fruto do vento
por minh'alma ao relento
sou dor sou descontentamento
sou "viver a vida em detrimento"



não sou tão
ao menos tanto
nem sempre desenlaço teu pranto
tampouco enlaço-me de teu encanto



e talvez seja pouco
tão pouco o senso
por me ferir de descontentamento
como se sua companheira não estivesse sendo



e porventura malfazeje-me
de suplício porquanto
te acompanhe no pranto
e sem mim sejas pântano



mas sabes que de todo o mal
não sou o mal
e caso me abrasasse teu peito, talvez
não fosse tão sinonimo de escassez



e pudéssemos assim
eu, cá com minhas desgraças
tu, em si com tuas desgraças
unir-las



mas não
deixais a vida correr
você me correr
e me apodrecer



afinal é assim mesmo a vida
afinal à vida não me resta nada
ao final de minha vida
minha própria desgraça me fada



a morte.
e peço que Deus
tenha piedade de minha alma diminuta
que por ti, tão massacrada



agora se transmuta
nessas tolas desculpas
de sincero platônico amor
de toda minha alma não amada.


Rdrigo da C. Lima Bruni

retórica sobre o amor

o amor é tão somente amor
quando a materialidade do orgasmo
e a complementação de almas
é verdadeira



ambas e mutuamente verdadeiras
devido à isto muitos que acham amar se enganam
satisfatoriamente enganados.
Outros dão se por satisfeitos pelo coração ou pelo desejo



não ambos, "não se pode ter tudo na vida".
A verdade absoluta é: não amamos
o ser humano nunca amou
e tão provavelmente nunca amará



seremos extintos
diante de eras nos ludibriando
e ludibriaremos até o amor
o fazendo à nossa imagem e semelhança



e amaremos com esse amor nosso
criado em laboratório pessoais do dia-a-dia
desenvolvido em tubos de ensaio de sonhos
e abortado



antes da alcançada perfeição perfeita
imperfeitamente antes do perfeito sentido literal da palavra
amaremos nessa material futilidade
e alguns podem ter a sorte de tomar uma dose desse drinque



porém nem sempre curam as enfermidades do coração
se drogar pode parecer mais fácil...
mas viva ao nosso amor, à nossa vida!
ambas coisas que não estamos nem perto do real conhecimento.


Rodrigo da C. Lima Bruni

a beleza, o singelo e o amor

amor tão belo amor
que por tão belo, desconheço
amor falado amor
por tão falado me apeteço



o querer acima do querer
que por tanto desanuvia-se
e de tanto desanuviar
desaparece por cada linha



de amor escrito e inscrito
de amor rimado em poesia
de amor sincero, amor gostoso
amor que tanto me almejaria



porém, meu amor tão belo
belo és em cada linha
amor desconhecido de tão singelo
desgraço este amor (que meu amor tinha)


Rodrigo da C. Lima Bruni

alma inquieta

irrequieta-se perante o nada
é um gosto bom
demais até para gostar-se



é uma rotina
tão docemente aleatória
que se torna aleatória, perante si



soa como música
aos ouvidos de quem não a quer ouvir.
O cego a olha nos olhos
e o amante a ama a cada procura por um novo amor



é fracionada nos momentos
e a cada fração de momentos
fraciona-se em um enésimo de sua inquietação
despedeça-se perante à recusa de seu estado



negá-la é viver extracomungado de si
é cheirar uma flor
e sentir o cheiro acre do vazio



como amar
e gozar da carne , tão somente
como beijar sem ser beijado



esta é como o amor que surge
ao qual, nos resta apenas amar
e quando este se vai
ela mesma nos incentiva a outro



negá-la é abduzir de nós mesmo
a beleza desta
que é linda
enquanto a temos como



deve-se aquietar perante sua inquietança
e deixar-la conduzir por aí
por estradas de outras almas inquietas
e que da interação destas se faça a perfeita interação!



Rodrigo da C. Lima Bruni