quinta-feira, 11 de junho de 2009

talvez

o redor tá ao meu redor
meu e de todos
tá por aí, escondido em algum canto ao redor do sentido da palavra
talvez de um verso
uma árvore
ou um corpo estirado ao chão



e ao redor dele tem coisas que não fazem questão somente de ficar ao redor
gostam da proximidade
do bafo na cara
da cara a cara com as pessoas
só para se manterem respeitadas
nessa cultura popular do medo do que se vê
do que se vem
e do que se tem
ao redor desse próprio medo de sabê-lo possível
e até rotineiro
esse medo inclinado nosso de cada dia
que nos dá hoje algumas ofensas
e não os perdoamos
e os mantemos ofendidos




ficamos assim
com medo
ao redor de nós mesmos
a cabeça baixa
o passo largo
o coração parado
frio e calculista
sem saber ter a vida curta que lhe foi prometida
e por isso poupa-se à diástole e à sua irmã



e ao redor tudo fica assim
taxado de normal
faixada de paz
até que o zumbido do redor
transponha a barreira invisível (mente transponível) do perto
e transponha também essa carapaça de desculpas remendadas e parlamentares



e quando alguém morre
não morre aqui
nem ali do lado
morre por aí,
morre pelas redondezas
morre ao redor



redor que é também barreira nossa
que também é nossa, a fuga
que também é nossa, a tristeza
que também é nosso pão de cada dia
pão mofado de cada dia
dia mofado de cada vida
vida mofada de cada redor




mas pai meu, que estás na terra
não mortificado, espero eu, sejas teu nome
que permaneça cercado em teu reino
em cima da terra, abaixo do céu



e diria amém
mas estou deixando de lado esse conformismo que circula ao redor
e provavelmente estarei morto daqui a horas
e talvez já esteja(mos)
apenas não saiba(mos).



Rodrigo da C. Lima Bruni

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