sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

poeminha bucólico

encontrei no campo
beleza pura sincera
sim, no campo
que jóia, ó campo, que bela


as flores desabrocham sem pressa
tudo no campo
lindo!
tudo no campo, donzela!


o vento vai sem rumo
o vento venta, mais nada
santa simplicidade pudica
o campo virgem não falha!


os bichos vivem e morrem
sem faca, arma ou navalha
só campo divino que escolhe
ora quem fica ora quem vaga


querida donzela, perceba
o campo é lindo e magnífico
porque somente ao que foi dito
e somada toda sua beleza.


Rodrigo da C. Lima Bruni

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

poemeto de futuro/presente

se prender
ao passado
ou se render
ao futuro

minha dúvida
assim me calo
meu desejo
de mim astuto

meu passado é um fardo
pouco sei o meu futuro
o sentido fica vago
vago fico, inoportuno

e segue a arte em mim possessa
tão macia enquanto eu duro
segue a vida à mim, depressa
a noite morre


agora eu durmo.


Rodrigo da C. Lima Bruni

solilóquio

e tudo segue perfeitamente
a desarmonia perfeita
o caos absorto no comodismo
e o desamor contaminante do sentimento
tudo na mais perfeita desordem


e tudo se quebra
o que era inquebrável se torna frágil
e você não é mais fortaleza
é pasto virgem
é humano de novo


o passado te contamina
te abate
te bate
e você se torna fraco
e fácil de se iludir pelo nada mais uma vez


o futuro te alucina
e você entra em parafuso
rodando em direção ao centro da sua loucura
do seu próprio desequilíbrio
e se torna ambíguo


ambíguo pelo sentimento humano do passado
ambíguo pela serenidade e fortaleza do futuro
ambíguo por você, ainda que por pouco
porém, acima de tudo,
ambíguo pelo outro


é difícil decidir
a decisão nunca é uma escolha fácil
mas essa...
vai ser dura, friamente humana e realista
e infelizmente, irreversível.


Rodrigo da C. Lima Bruni

egocentrismo à solidão

a solidão é oportuna
sempre oportuna
sempre me abraça
me abrasa


me esquenta da frieza do meu eu assim rimado
me esquenta dessa frieza do meu interno descampado
me acalenta de ternura mesmo eu, estando em pranto
me ilumina nas minhas ruas, nas minhas vielas, no meu canto


a solidão é amiga
é sofrida
e por isso me visto dela
sempre me visto um imbecil, tagarela


me acompanha no desacompanhado
sempre me visita,
mesmo o amor tendo acabado
sempre me visita...


a solidão sempre me têm visto
sempre, como uma filha
ou uma irmã
sempre preocupando-me

pré ocupando-se de mim
e preocupando-se assim
comigo...
só comigo.


Rodrigo da C. Lima Bruni

a partir da partida

[a partir...
a partida
a partir da partida
tudo se torna vazio
de tudo se esvai a vida


então o que fazer
como a tratar?
(a maltratar?)
ou apenas deixar transcorrer


lutar contra o impulso de não-desavença
não-desagregação
ou simplesmente viver
e quando possível, a transformar em inspiração


o que fazer meu Deus,
com pressentimento do sentimento
de sentir-se estranho, ao desalento
sentir-se partido de si mesmo.


o que fazer?!
alguém nesse invólucro vazio de tudo
que constitui essa sensações
esse tamanho infortúnio


me responda, alguém
me diga o que fazer
o que sentir
me diga! ]


...



[tristeza consumada
alma dilacerada
e situação à pretender
confirmo-me ao meu ser


deixar partir
e partir com a minha deixa
pra terra estranha lá de fora
pra esse mundo que desleixa.]


Rodrigo da C. Lima Bruni

meu semblante

meu semblante
de dor
se transforma em sorriso
ainda que amarelo, enviesado


meu semblante é arma mortal
para fazer de inocentes corações, o auxílio
para fazer de doces mentes , o exílio
para me fazer idiota, assim o tendo constatado


meu semblante não tem pudor
se exibe falsamente
se insinua docemente
sem nenhum pudor,


dança para o mundo
falsificando a sua própria essência
de incontinência
de tudo, por tudo e em tudo


meneia com máscaras
para não infligir dor à ninguém.
ó drama!
ó tragédia!


meu semblante é um clássico teatral
tão complexo e inexorável, como um animal
tão insignificante e mundano
como o próprio ser-humano ao não ser humano


meu semblante sou eu
mascarado por mim mesmo
mascarado de mim mesmo
e expurgado de mim mesmo


meu semblante sou eu ao meu inverso.


Rodrigo da C. Lima Bruni