sexta-feira, 2 de julho de 2010

sexta, 2 de julho

2010
ano de copa
o copo cheio de patriotismo amarelo
o peito azul, quase roxo
as árvores mais verdes que nunca
a mente, branca, limpa de pessimismo
ou pelo menos assim foi em grande parte
em parte, entendo que o coração do brasileiro bate no peito e não no pé
descarto toda forma de validade dessa competição
e acho, cada dia mais e mais, que não se passa de um nada simulado
mas simultaneamente,
fico triste pois toda nossa gente
sofre como um todo
e o que pra muitos seria uma chance de felicidade instantânea
fonte de orgulho por ter nascido já em desgraça
torna a desgraça mais desgraçada ainda



Brasil,
já saí da tua placenta
contenta-te com o penta
pois nosso hexa...
bem,
fica pra próxima.



Rodrigo da C. Lima Bruni

desabafo

nasci aqui
onde mendigos vivem à rua
em cobertores sujos e maltrapilhos
onde dividimos nossas casas com essa tal mulher
dissimulada e venenosa
que é a nossa violência de cada dia
sim, nasci aqui
nasci e cresci aqui
e aqui, cresço e apodreço
pois nada que daqui brota
por muito tempo se mantêm
nasci aqui, com a cabeça sempre alerta
os olhos atentos, à espreita
nasci canhoto, porém à direita
em contradição comigo mesmo
pois não almejo tal infelicidade
nasci do lado errado do globo
em errônea cidade
e futilidade é achar que mero grupo
de (des)patriotas
fariam mudar tal sina
nasci aqui, senhores,
e aqui padeço até perecer
pareço-me com muitos outros
que queriam ver sua nação brilhar e se fazer por merecer
cada pessoa trabalhadora que à forma
desejando mais do que sua noção poderia alcançar
vivi e vivo aqui
sem medo de morrer nem de sorrir




nasci aqui
e aqui apodreço como caqui
exposto em banca de feira
onde os fregueses me manipulam como querem
com desgosto preparo-me para a próxima feira
nessa vida nossa de Brasileiro
de todo dia de feira



e segunda-feira estamos todos novamente à venda
ao descaso
e fazendo pouco caso
de tudo que nos cerca
nessa nação onde tudo recai em festa
Carnaval, samba e desgraça
e a graça e achar graça nela
pra só assim poder viver



nascemos aqui;
somos Brasileiros



Rodrigo da C. Lima Bruni

segunda-feira, 8 de março de 2010

o mistério das folhas e flores

toda folha que se preze cai
toda flor que se preze cai
despenca da árvore
e ao relento fica
no chão frívolo e turbulento
lá de baixo, ambas amam sua árvore
toda folha que se preze ama sua árvore
por isso cede seu corpo como pulmão
sem interesses, sem ambição
toda flor que se preze ama sua árvore
por isso cede sua vida para poder gerar uma outra
flor e folhas têm um caso de amor platônico com suas árvores
ela as usa
depois se desfaz
como lixo inútil
e a flor lá debaixo, mesmo sem cor nem cheiro
mesmo perdendo suas pétalas
ama sua árvore
e a folha lá debaixo, mesmo ressequida e sem forma
mesmo torrada pelo sol
ama sua árvore




e a árvore ama somente suas raízes






é bom acostumar-se com o chão úmido e frio da floresta
porque cedo ou tarde
todos despencamos de nossa árvore.



Rodrigo da C. Lima Bruni

incauto

não tive precauções com meus atos desatados subitamente
desatado do meu nó, senti falta de ser amarrado
e tentei dar um nó de marinheiro
mas nunca soube dar nó
e também nunca gostei das forças armadas,
conclusão:




fiquei desarmado e desatinado
sem saber o que pensar nem fazer
fiz um pouco de brigadeiro
engordei uns poucos quilos não reparáveis
e fiquei assim
quieto, vazio
não retornável
como uma garrafa vazia de coca-cola
fiquei empilhado no bar da esquina
junto de milhões de outras
e ficava lá
quieto, e empilhado
sem nem reclamar nem sentir




fui incauto
não mensurei minhas atitudes não articuladas
não mensurei minha falta amor demonstrável
mas em seguida, demonstrei meu amor articulado
conclusão:




fiquei desarticulado
sem juntas nem articulações
sem ossos, nem músculos
fiquei um espaço dentro de carne , pelos e olhos e dentes
um espasmo de dor tão grande,
que o grito se perdeu no infinito
(o infinito é um espaço tão grande, que nem sei se acredito)
um espaço grande e empilhado sobre mim mesmo
como uma coca-cola não-retornável do boteco da esquina




nunca mais hei de amar.



Rodrigo da C. Lima Bruni

onde existem as coisas

onde existe solidão não existe espaço para amar
onde existe tristeza e mágoa não há resquício de gota d'água
tudo ressecado, erodido
alusivo a velhos bordões de "pra sempre sempre acaba"
iludido por carinhosas menções de suprema importância
onde há isso tudo também há distância
discrepância entre o que se foi passado e o que se é presente
que não segue a linha de significação da palavra, propriamente dita;



onde existe a solidão e a falta de amor
o presente é um infortúnio
um peso nas costas, seguido de murmúrio
um prego nas mãos, como uma cruz eterna na qual se é afixado
um preso dentro de uma cadeia de segurança máxima
e as cadeias de fatos fazem tudo ficar pior
onde a máxima segurança não serve de nada
se me seguro, fico preso num balanço
indo e voltando nas minhas recordações
preferia que o presente fosse um eterno passado
bem melhor, bem mais carinhoso
a rememoração tem essa coisa de bipolar
uma de suas facetas é risonha, carinhosa
a outra é triste, só
e só quem não vê isso é quem por fora está




onde existem as coisas palpáveis
os sentimentos positivos, altruístas e incentivadores
onde existem as namoradas, te amo e amores
onde têm-se sonhos, paz e prazer
companheirismo, compreensão
compressão de coisas negativas
compactação de tristezas
compaixão por fraquezas
é justamente onde não estou




onde existe vida
a vida às vezes também desiste



Rodrigo da C. Lima Bruni