quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

cantos e encantos do silêncio

o silêncio é muito mais gostoso
quando apreciado sem pressa
sem pretensão



e cada gota que transborda seu prazer
é prazer aos ouvidos de quem o toca
de quem lhe exerce o tato com a alma



me lembra a beleza do canto dos passarinhos
tal encanto o meu!
tal que meu canto seria ribombante
acima do silencioso tom audível dos mortais



seria inaudivelmente imortal
esse silêncio dito canto
e cá no meu canto
o romper seria me prorromper em trombetas



em sopros de pesar
sopros inaudíveis de tão introspectivos
porém meu silêncio, que minha algazarra habita
teria seu silencioso coração cortado de dor e angústia



caso ocorresse.
e lhe ocorreria
a tentação do costumeiro suicídio



que me fadaria a algazarra extrospectiva
a algazarra mundana
a algazarra imortal



silêncios são orgulhosamente sentimentais
e quando nos fazemos à menção de abandono
se suicidam
pelo mais belo amor à sua integridade silenciosa



póstuma tragédia esta
na qual me queixo do meu silêncio
que já se alimentou de mim
e aqui me alimento dele



silencioso, terreno e mundano
o digiro à largas garfadas
o dirijo pelo meu corpo



esse silêncio intra-venoso
essa coisa que vai ser sempre minha
e minha será a morte



sempre que acordar para a algazarra
serei eu, o morto
que me farei ele
para este nunca mais se dissipar



e ser, assim, eterno
e à isso não encontro um fim
aqui escrito
porém, inscrito e proscrito, já sabeis...



(silêncio)


Rodrigo da C. Lima Bruni

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